Alta da gasolina puxa vendas para baixo

Depois da euforia do fim de semana, a 2ª-feira foi de "ressaca" nos postos de combustíveis, com poucos clientes

Escrito por Redação ,
Legenda: O aumento de quase 9% no preço da gasolina comum, verificado ontem, em muitos postos de Fortaleza, assustou o consumidor, que evitou abastecer ou procurou aqueles com valores mais em conta
Foto: foto: érica fonseca

Passada a correria registrada na sexta-feira e sábado últimos, quando muitos motoristas foram aos postos de combustíveis em busca de gasolina e de óleo diesel, ainda sem os aumentos impostos pelo governo; o dia de ontem foi de calmaria na grande maioria dos estabelecimentos da capital cearense, onde o preço do litro da gasolina comum chegou a R$ 3,399, assustando o consumidor. Com alta tão expressiva, o cliente se afastou e em alguns postos a retração nas vendas foi de 15% a 20%.

Em Fortaleza, os aumentos de R$ 0,22 no Pis e Cofins tributado sobre o litro da gasolina e de R$ 0,15, sobre o diesel S-10, foram repassados quase que integralmente por vários postos, mesmo por aqueles cujos valores praticados nas bombas já eram os mais elevados, antes do reajuste. Por todo o dia, algumas filas ainda foram vistas em alguns pontos, mas apenas naqueles onde os preços subiram menos.

Preços abusivos

"A queda nas vendas foi em torno de 15% a 20%, por causa da alta. O povo se retraiu um pouco", respondeu Flavio Ferreira da Silva, chefe de Pista, do Posto BAJ, na Avenida Pontes Vieira, onde o litro da gasolina saltou de R$ 3,19 para R$ 3,199, alta de 6,55%. "Quem está colocando (abastecendo), está reclamando", ressaltou Pedro Ciro de Lima, frentista do Posto Marajó, na mesma avenida; revelando a insatisfação do consumidor com a medida imposta pelo governo.

Pesquisa direta realizada pelo Diário do Nordeste, em uma amostra de 12 postos, na tarde de ontem, constatou que, em geral, os estabelecimentos que cobravam na sexta-feira, 30 de janeiro, R$ 3,19, pelo litro da gasolina tipo C, ontem, já a comercializam por quase R$ 3,40, alta de R$ 0,20, ou de 6,25%. Já o diesel subiu em torno de R$ 0,10, ou de 6%, em média, por litro, embora alguns estabelecimentos ainda o tenham mantido com o mesmo preço da semana passada, o que só deve permanecer até o fim do estoque nos tanques.

Ruim para os donos de postos que vendem menos, pior para os consumidores que têm de pagar a conta. "Esse preços estão abusivos totalmente desproporcionais à realidade", reagiu o assistente jurídico de um escritório de advocacia, Pedro Luiz Leite Saraiva. Para ele, que necessita do veículo para visitar clientes, não tem saída. "Se tivéssemos, pelo menos, transportes públicos descentes", ponderou.

Opinião semelhante tem o líder de Portaria de um supermercado de Fortaleza, Alex Holanda da Silva. "Não tem alternativa. Não posso deixar o carro encostado em casa", protestou, lembrando que o governo facilitou a vida das pessoas para adquirirem um veículo, e agora não o permite utilizá-lo, por conta dos preços abusivos dos combustíveis.

Na tarde de ontem, porém, ainda era possível encontrar a gasolina comum por R$3,07 e o diesel por R$ 2,81, em dois postos no bairro Joaquim Távora, entre as avenidas Barão de Studart e Rui Barbosa. O preço do etanol quase não variou e se manteve estável em torno de R$ 2,57, por litro.

Queda nas vendas

O presidente do Sindicato dos Proprietários de Postos de Combustíveis do Ceará (Sindipostos-CE), Vilanildo Jorge Gadelha, confirma a insatisfação dos clientes. "O impacto no bolso do consumidor foi muito grande. Tá tudo muito parado", declarou, Gadelha, explicando, no entanto, que somente hoje, teria como informar o percentual real de retração das vendas.

Conforme disse, sempre que há alta nos preços dos combustíveis, a queda no consumo é da ordem de 15%, mas desta vez o reajuste foi muito forte. Ele teme, ainda, que a gasolina volte a subir, caso o preço do etanol também seja reajustado, já que o governo pensa em aumentar de 25% para 27%, a participação do álcool anidro na gasolina.

Mistura de etanol deve aumentar para 27% dia 16

Brasília. A mistura de etanol na gasolina deve subir de 25%, para 27%, em 16 de fevereiro. A proposta foi acordada entre o setor sucroalcoleiro e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ontem, e será apresentada hoje, à presidente Dilma, a quem caberá a decisão final. O acordo define que, no caso da gasolina premium, o percentual da mistura continue em 25%.

Uma elevação do álcool anidro na mistura deve aliviar a alta de preço ao consumidor com a retomada da cobrança da Cide (tributo regulador incidente sobre a gasolina) e a elevação do PIS/Cofins sobre a gasolina, que vão acrescentar R$ 0,22 ao preço do litro do combustível.

A medida vai favorecer o setor sucroalcooleiro, que estima um aumento na demanda anual por etanol de 1 bilhão de litros, segundo Elizabeth Farina, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

As usinas brasileiras produziram 28 bilhões de litros de etanol no ano passado.

Efeitos da mistura

De acordo com o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Moan, estudo feito pela Petrobras concluiu que a elevação da mistura não representa prejuízo para os motores e não compromete o desempenho dos veículos.

Outro estudo conduzido pela entidade sobre o efeito da mudança da mistura nos veículos será concluído no fim de março. Era esperado um aumento do percentual de álcool anidro na gasolina para 27,5%. Segundo Moan, decidiu-se pelo número fechado, porque as provetas de teste instaladas ao lado das bombas de combustível atualmente, não têm capacidade de verificar um percentual quebrado.

Em abril, após concluído o estudo da Anfavea e com nova tecnologia nas bombas, é possível que o percentual vá para 27,5%. "Não existe nenhuma preocupação com abastecimento. Temos estoque para um mês depois de a safra terminar", afirma Farina, tranquilizando o mercado.

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