69,6% das famílias têm renda de até um salário

Conforme o IBGE, em 2013, apenas 1,8% dos arranjos familiares do Estado tinha renda acima de cinco salários

Escrito por Redação ,
Legenda: Entre 2004 e 2013, a renda do trabalho diminuiu a participação no orçamento das famílias. Outras fontes, como o Bolsa Família, cresceram
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Fortaleza/Brasília. A igualdade na distribuição de renda ainda é uma realidade distante em todo o País, e, no Ceará, a situação não é diferente. Em 2013, por exemplo, 69,6% dos arranjos familiares residentes em domicílios particulares do Estado tinham renda per capita de até um salário mínimo, enquanto que apenas 1,8% possuíam rendimentos superiores a cinco salários.

Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também informou que 3% dos arranjos familiares sequer tinham rendimento.

Em número reais, o Ceará possuía, no ano passado, cerca de 2,82 milhões de famílias residentes em domicílios particulares. Dessas, 440.232 (15,6%) viviam com renda per capita mensal de até um quarto do salário mínimo, ou seja, R$ 169,5 (em 2013, o Mínimo era de R$ 678). Por outro lado, apenas 50.796 arranjos possuíam rendimento superiores à R$ 3.390.

Conforme o pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza do Caen da Universidade Federal do Ceará (UFC), Carlos Eduardo Marino, apesar do elevado número de famílias que ainda vivem com pouco, desde do início dos anos 2000 a desigualdade vem caindo no Ceará e no Brasil. Para ele, contudo, "o modelo econômico que fez isso acontecer está esgotado e, se outras medidas não ocorrerem, a tendência é de estabilidade".

10% mais ricos

No País, a desigualdade na distribuição de renda diminuiu entre 2004 e 2013, mas não o suficiente para alterar substancialmente a diferença de rendimentos. Conforme o IBGE, no ano passado os 10% da população que possuem a maior renda familiar per capita concentravam 41,7% do total do País, contra 43,6% em 2008 e 45,8% em 2009. Enquanto isso, a proporção entre os 10% da população com menor rendimento passou de 1% em 2004 para 1,1% em 2008 e 1,2% em 2013.Numa sociedade perfeitamente igualitária, cada décimo (10% das pessoas com rendimentos) teria 10% da soma desses rendimentos, explica o IBGE.

Transferência de renda

Entre 2004 e 2013, a renda do trabalho diminuiu sua participação no orçamento das famílias mais pobres - que ganham até um quarto do salário mínimo - de 73,6% para 57%. Ao mesmo tempo, as outras fontes de custeio familiar cresceram de 20,3% em 2004 para 37,5% em 2013. Os dados são do IBGE.

Segundo o instituto, considera-se "outras fontes" programas de transferência de renda, aluguéis e bônus financeiros, entre outros. No entanto, a coordenadora da Síntese, Barbara Cobo, acredita que, no caso das famílias de renda mais baixa, a maior parte dessas outras fontes venha de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. "Essas famílias mais pobres passaram a contar com esse tipo de rendimento, então eles cresceram de importância no âmbito do orçamento familiar. Isso não quer dizer que teve um impacto sobre o nível de ocupação das pessoas nessa faixa", disse.

Ela explica que os programas de transferência de renda não substituem o rendimento do trabalho, mas são uma garantia. "Essas famílias têm uma característica de inserção precária no mercado de trabalho. Com a transferência de renda governamental, elas passam a contar com uma renda complementar. Você previne que essas pessoas tenham uma renda mesmo em caso de desemprego e possam recusar trabalhos degradantes".

s

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.