5,4 milhões de cearenses ganham até R$ 496 por mês

Escrito por Redação ,
Pnad aponta que houve mobilidade social, mas percentual de pessoas mal remuneradas continua elevado

Alda com dois dos quatro filhos. O negócio próprio rende cerca de R$ 1mil para a família de seis pessoas

Na casa de Alda Lúcia Morais da Silva, 45, a renda de cerca de R$ 1.000 é destinada ao sustento de toda a família, composta pelo marido e os quatro filhos com idades entre 17 e 28 anos. A principal fonte vem do Cantinho da Ressaca - ponto comercial montado há um ano, onde ela vende lanches variados.

A realidade da família de Alda também reflete que as condições de renda dos cearenses ainda estão muito aquém do ideal. Em um balanço do ano passado, 5,4 milhões de pessoas ganhavam até R$ 496 de rendimento médio mensal per capita ou não tinham remuneração, no Estado. Isso corresponde a 73,9% da população em condições de trabalhar. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Deste montante, 1 milhão de pessoas sobreviviam com R$ 141 rendimento médio por mês, no Estado. Outras 1,8 milhão viviam com R$ 496. Porém, 2,4 milhões não tinham remuneração. Somadas, essas três parcelas da população cearense representam 73,9% de todos com idade economicamente ativa.

Além de continuar elevado, este índice preocupa ainda mais porque em um década não houve melhora do indicador. Na Pnad de 2002, o Estado tinha 2,2 milhões de pessoas sem renda (parte que recebe transferências de renda do governo está incluída aí), que alinhadas às demais que estavam enquadradas no patamar de até um salário mínimo, na época, chegava a 4,5 milhões. Um número bem menor no absoluto que a de dez anos depois (5,4 milhões), mas que representava 73,7% da população em condições de trabalho - praticamente o mesmo índice de 2011.

Renda informal

Assim como muitos cearenses, o marido de Alda, Edmar Júnior, 53, está desempregado desde 2011, quando ganhava um salário mínimo. Hoje ele ajuda a esposa cozinheira na lanchonete. Ela largou o emprego, onde também ganhava um salário, para trabalhar por conta própria. A experiência por seis anos ajuda na empreitada. "Quando recebo um dinheiro a mais hoje, não penso em comprar uma moto, mas ampliar o negócio. Assim eu não preciso de patrão e tenho minha liberdade. É muito melhor", diz Alda.

De acordo com ela, na família ninguém fica parado. Os quatro filhos ganham dinheiro normalmente com bicos. Rafael, de 20 anos, faz trabalhos esporádicos como fotógrafo. Catarina Érika, 23, é recém-formada em jornalismo e realiza estágio em uma empresa. Leonardo, 28, aluga materiais para festas, mas também não possui renda fixa. O mais novo, Leandro, 17, cursa o Ensino Médio e sonha em se tornar engenheiro civil. Ano passado, ele trabalhava como entregador de água e hoje consegue um dinheiro extra como jardineiro. Contudo, a renda conseguida pelos jovens não é direcionada para as contas de casa, sendo voltada para gastos pessoais.

Mercado de trabalho

Para o diretor Geral do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Flávio Ataliba, os cearenses não estão acomodadas com o Bolsa Família, por exemplo, ou qualquer outra situação que não gere renda. "O problema é que falta qualificação profissional para essas pessoas entrarem no mercado. O que existe é uma dificuldade muito grande por parte das pessoas com faixa de renda muito baixa atenderem aos requisitos exigidos para conseguir uma ocupação", afirma.

Segundo Flávio Ataliba, o contrário já ocorre em relação às demais camadas sociais, (26,1% cearenses restantes, em 2011). "Nos últimos dez anos, foi possível perceber as pessoas que ganham acima de um salário mínimo uma maior evolução nesse sentido. Elas têm mais chances de se capacitarem do que as de baixa renda", completa.

O diretor do Ipece tem razão. Mais cearenses entraram nas estratificações a partir de um salário mínimo. Em 2002, eram 1,5 milhão contra 1,9 milhão no ano passado conforme a Pnad.

Crescimento

E Alda é um exemplo vivo disso. Atenta às possibilidades, ela também se anima com o negócio próprio. "Nós economizamos e sabemos que não podemos abusar. Se gastar mais que pode, acaba se quebrando. Sempre botei na cabeça dos meus filhos. Hoje, já tenho uma filha formada", diz satisfeita, enquanto observa o vai-e-vem dos clientes na entrada do estabelecimento, pela Rua Beni de Carvalho.

Há um ano, entre 6h e 23h, é assim. O negócio virou referência no Conjunto São Vicente de Paula, na também conhecida quadra Santa Cecília. "Aqui é o Cantinho da Ressaca, por isso abre cedo".

GABRIELA RAMOS/ ILO SANTIAGO JR.
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