44,2% da população do Brasil está endividada

Escrito por Redação ,
Especialista alerta que os consumidores precisam saber calcular os impactos dos financiamentos

O nível de endividamento das famílias com os bancos atingiu o patamar recorde de 44,2% em doze meses até abril deste ano, segundo informações divulgadas pelo Banco Central. Nos doze meses até março, o indicador estava em 43,9%. O dado vem em uma crescente desde 2005, quando estava no patamar de 18,39%.

Dentre as causas do endividamento estão o analfabetismo financeiro, consumismo, marketing publicitário e crédito fácil. Para se livrar do problema, é importante fazer um levantamento detalhado de todas as dívidas FOTO: FABIANE DE PAULA

Entretanto, para Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e autor do livro "Livre-se das Dívidas" (Editora DSOP), os números reais de endividamentos são muito maiores. "Se forem levar em conta outras formas de endividamento, posso afirmar que mais de 80% da população possui algum valor a ser pago", afirma, lembrando que os juros bancários são exorbitantes e a grande maioria dos brasileiros recorre a empréstimos e linhas de créditos.

Domingos alerta que é importante os consumidores saberem calcular o impacto de financiamentos (cartão de crédito, cheque especial, financiamento da casa própria, do carro, de eletrodomésticos, entre outros) em seu orçamento, e refletirem sobre a real capacidade de pagamento antes de optar por uma linha de crédito.

Ciclo do endividamento

Segundo ele, o ciclo do endividamento se constitui de causas como analfabetismo financeiro, consumismo, marketing publicitário e crédito fácil; de meios como cheque especial, cartão de crédito, crediário, crédito consignado, empréstimos, adiantamentos e antecipação do IR; e de efeitos como problemas conjugais, problemas de saúde, desmotivação, baixa autoestima, produtividade reduzida, atrasos e faltas no trabalho.

"Para quebrar esse ciclo é necessário ajudar a ampliar o repertório da população sobre finanças, de forma consistente e carregada de sentido prático, para que assimilem, o mais cedo possível, a importância do equilíbrio financeiro para o bem-estar individual e social".

Em geral, a ciranda financeira segue o seguinte compasso: se a prestação da casa ou do carro não está cabendo no orçamento, a pessoa passa a pagar todas as demais despesas no cartão de crédito, imaginando que assim sobrará recurso para pagar suas principais dívidas. Dentro de poucos meses, no entanto, já não conseguirá quitar a fatura do cartão e passará a pagar a parcela mínima, até que entre algum recurso extra. Mas isso não acontece e a saída é recorrer também ao cheque especial. Chega o começo do outro mês e a história se repete.

Solução

A solução é fazer um levantamento detalhado de todas as dívidas, separando os itens em "essenciais" e "não essenciais", priorizando o pagamento das essenciais para evitar o corte de serviços indispensáveis.

Deve-se também priorizar as dívidas que têm as taxas de juros mais altas. Provavelmente serão as dos empréstimos adquiridos junto ao sistema financeiro. Se assim for, o melhor é procurar o gerente e pedir que junte num mesmo pacote as dívidas de cheque especial, cartão de crédito e demais empréstimos e negociar uma linha de crédito diferente, mais alongada, com juros médios de 2,5%, cuja prestação seja menor do que o valor total dos juros que a pessoa pagava mensalmente.

O salário recebido é suficiente apenas para cobrir o limite do cheque especial. Junto vem o débito referente aos juros do período mais a parcela mínima do cartão acompanhada de juros. Sem alternativa, deixa-se de pagar a prestação da casa ou do carro. Quando se dá conta, a pessoa está endividada de todos os lados, correndo o risco de ficar inadimplente e sem linhas de crédito. Há quem provoque a própria demissão para usar os recursos dos direitos trabalhistas.

A partir desse acordo com o banco, o devedor estará pagando não mais os juros, e sim o valor principal, fazendo com que a dívida seja efetivamente liquidada ao longo do tempo. Se não houver acordo ou se a parcela negociada não couber no orçamento, será melhor poupar para que, quando for procurado pelas empresas de recuperação de crédito, tenha melhores condições de negociar a quitação.

Impacto

"Se forem levar em conta outros endividamentos, posso afirmar que mais de 80% da população possui algum valor a ser pago"

Reinaldo Domingos
Presidente da Abefin



Dívidas cresceram mais que renda comprometida

Brasília. O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, disse ontem que houve recuo importante nos atrasos entre 15 e 90 dias de pagamento de dívidas das famílias brasileiras, um indicador que é usado como antecedente para a inadimplência.

Segundo ele, o endividamento cresceu mais do que a parcela da renda comprometida, porque as taxas de juros recuaram bastante de 2005 para cá. As condições de financiamento, informa, são mais favoráveis e tem havido crescimento em linhas nas quais os juros são mais baixos. Esse cenário é bom, sem

Melhora

"A gente percebe um recuo importante nos atrasos, sinalizando que, no curto prazo, não deve haver muita mudança, nenhuma piora. Pelo contrário, sinaliza uma melhora", afirmou. Ele ainda informou que os juros mostraram recuo substancial em 2012 e, agora, as taxas estão estabilizadas.

Hamilton afirmou que o aumento de endividamento das famílias tem arrefecido e que esse indicador tende a convergir, pois o crescimento do crédito das famílias tende a convergir para a taxa de crescimento da renda. Os dados do BC mostram que o endividamento passou de 18,4% em fevereiro de 2005 para 44,2% em abril de 2013 (valor recorde). No mesmo período, o comprometimento de renda mensal com serviço da dívida passou de 15,3% para 23%.

O diretor disse ainda que, em algum momento, o endividamento vai se estabilizar. Ainda segundo ele, as provisões dos bancos mostram recuo na margem, sem nenhuma novidade em relação ao cenário do último relatório de inflação. "O mesmo se pode dizer sobre créditos baixados a prejuízo".
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