Em um circuito mais restrito, filmes brasileiros preocupados com a experiência da linguagem e com as abordagens políticas se contrapõem às comédias enlatadas que superlotam as salas comerciais. Em "Era o Hotel Cambridge", a cineasta Eliane Caffé traz em sua ficção traços documentais para acompanhar a rotina de moradores que ocupam o prédio que dá nome ao filme, a maioria imigrantes e nordestinos. Ameaçados o tempo todo de serem expulsos do local, os personagens dialogam sobre a situação de invisibilidade e impotência que enfrentam. Caffé faz um trabalho especial ao misturar a espontaneidade dos relatos com as cenas ensaiadas, criando um clima de insegurança, mas também de irmandade entre eles, cujas rachaduras acontecem inevitavelmente por motivos externos. Eleito o melhor longa-metragem de ficção na opinião do público do Festival do Rio 2016, a obra estreou na última quinta-feira (16), mas os cinemas de Fortaleza ainda não foram contemplados. Aliás, a última semana foi bem feliz para o cinema nacional, que levou sete produções às telonas, mostrando diferentes propostas que moldam a identidade política e madura do audiovisual nacional.
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.A resistência da infância e da arte
"Era o Hotel Cambridge", dirigido por Eliane Caffé, aborda questões de ocupação e imigração no Brasil
Estopô Balaio
Também fora do circuito de estreias em Fortaleza, mas chegando aos cinemas de outras capitais, o documentário "Estopô Balaio" é o novo trabalho do cineasta Cristiano Burlan. O filme explora as ruas do bairro Jardim Romano, no extremo leste paulistano, que sofre constantemente com enchentes e é esquecido pelas autoridades. O Coletivo Estopô Balaio, que dá nome ao filme, é um símbolo de resistência artística dos moradores da região. Em 2010, o bairro ficou submerso por três meses e os moradores foram obrigados a reinventar a vida e a criar perspectivas de sobrevivência. Com uma estrutura um pouco mais tradicional, Burlan ganha com as ótimas entrevistas que mostram como esses sobreviventes tentam sair da invisibilidade social e resistir
Mostra
O Curta O Gênero 2017 está com inscrições abertas até dia 31 de março para trabalhos e produtos para Simpósios temáticos, Mostra Internacional Audiovisual e Concurso de fotografia Contrastes. Esse ano, o evento tem como tema "Desafios atuais dos feminismos latino-americanos: política, estratégias e articulações possíveis" e terá uma vasta programação artística e de debate. Os projetos devem ser inscritos pelo site oficial (www.Fabricadeimagens.Org.Br).
Festival
A 27ª edição do Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema está com inscrições abertas para curtas-metragens brasileiros e longas realizados na América Latina, Caribe, Portugal e Espanha. Realizadores devem enviar suas obras até 7 de maio pelo site oficial (www.Cineceara.Com). O festival acontece de 5 a 11 de agosto no Cineteatro São Luiz e programação paralela em outros pontos da cidade. Esse ano, o Cine Ceará homenageará o cinema chileno.
Documentários imperdíveis
Coutinho
A Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) fez uma pesquisa entre os críticos associados e convidados para eleger os melhores documentários brasileiros lançados até hoje. Eduardo Coutinho foi o realizador mais lembrado na pesquisa. "Cabra Marcado para Morrer" (1984) conquistou o primeiro lugar da lista, que ainda citou "Jogo de Cena" (2007), "Edifício Master" (2002), "Santo Forte" (1999), "Peões" (2004), "O Fim e o Princípio" (2005), "Moscou" (2009) e "As Canções" (2011), reconhecendo a carreira de um dos principais realizadores e pensadores do documentário nacional. O levantamento é o ponto de partida para o livro "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", que será lançado no segundo semestre de 2017 pela Abraccine, em conjunto com o Grupo Editorial Letramento. A entidade lançou ano passado o livro "Os 100 Melhores Filmes Brasileiros", com críticas das obras mais relevantes da filmografia nacional.